Raiva: O que precisamos saber?
Publicado em: 25/08/2025
Texto por: Daniel A. Damasceno Junior
A Raiva é uma doença causada pelo Lyssavirus (Família Rhabdoviridae). O vírus ocorre em mamíferos e pode circular a partir de quatro ciclos: O ciclo aéreo que envolve os morcegos. O ciclo silvestre, onde ocorre a infecção da fauna nativa. Ciclo rural, onde são infectados os animais de fazenda, e o ciclo urbano, que acomete principalmente animais domésticos.
Imagem: Fluxograma do vírus da Raiva entre ciclos. Todos os ciclos interagem entre si, indo em ambas as direções (de A para B, e vice e versa).
Fonte: Damasceno Jr. 2021.
O ciclo silvestre (animais terrestres) frequentemente é considerado separado do aéreo (morcegos) em função de características de cada grupo (animais terrestres percorrem áreas bem menores que morcegos, por exemplo). Mas, para simplificar a compreensão, ao citarmos o ciclo silvestre, os morcegos estarão inclusos.
No Brasil, são encontradas sete variantes denominadas a partir de características antigênicas (AgV), que mudam de acordo com o hospedeiro em que é encontrado o vírus: AgV1 e AgV2, encontradas em cães e gatos (eventualmente outros canídeos silvestres). AgV 3, encontrada em morcegos hematófagos (Desmodus rotundus). AgV4 e AgV6, encontradas em morcegos insetívoros (Tadarida e Lasiurus).
A doença é transmitida pelo contato (mordida, arranhadura, etc.) com fluidos como saliva ou sangue, por exemplo. Ao entrar em contato, o vírus pode ficar entre duas a 12 semanas de incubação, se multiplicando no local da infecção. Após isso, o vírus alcança o sistema nervoso e se espalha por todo o corpo (quando os sintomas se tornam perceptíveis).
O vírus pode se manifestar de duas maneiras: na forma Furiosa ou na Paralítica. Na forma furiosa, observa-se falta de apetite, apatia, depressão, agressividade, inquietação, excesso de saliva, espasmos, entre outros. Na forma paralítica, o indivíduo não expressa sintomas graves além da paralisia que se inicia na mandíbula (causando excesso de saliva) e gradualmente tomam os membros. A forma furiosa é mais comum em animais domésticos e humanos, enquanto a forma paralítica acomete os morcegos.
Prevenção e Profilaxia
A principal forma de prevenção contra a Raiva é a vacinação de animais domésticos e evitar contato direto com animais silvestres. No Brasil ocorrem as campanhas de vacinação para cães, gatos e outros animais. Ao avistar animais silvestres, não tente tocar ou alimentar o animal. Ainda assim, casos de acidentes com animais podem ocorrer, por isso, é importante manter atenção e seguir os “procedimentos de cuidado e redução de riscos” (profilaxia).
A Raiva, como informamos, é transmitida pela troca de fluidos como o sangue ou saliva. Por isso, o primeiro passo é lavar o local com água e sabão. A partir daí, procure um posto de saúde para verificar se é necessário fazer a profilaxia. Normalmente, sugere-se que em casos com animais domésticos, mantenha o animal em observação por sete a 10 dias. Mas nem sempre o animal poderá ficar sob observação, como ocorre com incidentes com animais silvestres. Nesses casos, além de lavar com sabão, pode ser necessário que o indivíduo seja tratado como soro antirrábico e receba doses de vacinas. As vacinas, quando necessárias, devem ser administradas a partir do dia zero (dia do incidente).
Casos de Raiva no Brasil:
Entre 1986 e 2001, os cães foram os principais responsáveis pela transmissão do vírus da Raiva para humanos. No entanto, com o avanço das campanhas de vacinação, as infecções por animais domésticos foram reduzidas.
Gráfico x - Casos de Raiva Humana por animais agressores desde 1986 a 2024.
Fonte: “ SVSA/MS”. *Atualizado em 11/09/2024
Já entre 2002 e 2010, casos de Raiva em animais caíram. Casos de Epizootias (epidemias entre animais) se tornaram cada vez menores, mais localizadas e menos comuns. Houve grande intensificação da vacinação antirrábica no país, chegando a reduzir drasticamente os casos em animais e em humanos.
Por que essa queda e retorno da Raiva?
De 1986 a 2020, os casos de Raiva humana por animais domésticos e rurais quase foram anulados. Mas infelizmente não se pode vacinar animais silvestres terrestres e morcegos, então os casos de Raiva continuam a circular no ciclo silvestre.
Por isso, “ o perfil epidemiológico mudou”. Ou seja, os casos de Raiva humana passaram a ocorrer mais por contato com animais silvestres. Em 2018, por exemplo, foram oito casos de transmissão por morcegos. Em 2020, outros dois casos por morcegos e um por incidente com uma raposa. Em 2023 ocorreu transmissão por agressões causadas por bovino e primatas. Em 2024, dos casos que se tem notícia, existem duas notificações: o “ falecimento de um homem infectado” por sagui; e “falecimento” pela variante transmitida por morcego (AgV3).
Assim…
Como dito, não é possível vacinar morcegos. Eles mesmos não nascem com a Raiva, apenas são mais um dos animais afetados por ela. O controle da Raiva é a vacinação de animais domésticos e rurais, a fim de restringir o ciclo aos animais silvestres.
Além disso, não se deve atacar ou ferir animais silvestres, nem mesmo permitir que animais domésticos ataque. Pois um animal silvestre tende à primeira opção: tentar fugir. Eles só recorrem ao ataque sob estresse e ameaça.
A melhor maneira de proteger a si mesmo e ao seu animal da Raiva é a vacinação. Caso encontre animal silvestre, ligue para o CCZ ou Vigilância Sanitária e entre em contato com profissional que lide com tal animal.
Em caso de acidente, recorra à profilaxia imediatamente.